A vocação de uma cidade
passa diretamente pelos discursos de seus cidadãos, mas até que ponto estes são
representativos e válidos? E como
determinar estes valores? Toda fala é feita de uma perspectiva que envolve no
mínimo o espaço e o tempo do sujeito que a pronuncia. Não se trata de meros
vetores que se cruzam, tanto um como outro são condições fundantes das complexas
proposições que ali se colocam. No entanto percebe-se que certas vozes ganham
legitimidade no cotidiano de sua escuta. Escutar e apreender são ações que participam
o ouvinte da narrativa. Neste sentido, penso que as narrativas estão diretamente
relacionadas à dialogia, porquanto requerem ao menos dois seres presentes
envolvidos em seu tecido. Em termos bakhtiniano o diálogo não se esgota e
implica responsividade. Se aplicarmos estes elementos ao contexto onde a
narrativa se desenvolve, certamente cairemos na protagonização de seus atores e
por conseguinte na apropriação de seus espaços (circunvisão) e de seus tempos.
Os mecanismos de
apropriação dos espaços considerados bens públicos estão à mão quando a
presença do ser se manifesta. Suas
falas revisitam e atualizam ambientes e nesta polifonia descobrem respostas às
questões. Ao participar do discurso da cidade como ouvinte e como alguém que
também produz um discurso pode-se desvelar a cidade e assim descobrir a sua
vocação e também a sua participação singular dentro do contexto de mundo.
Hoje alguns prédios de
Piracaia foram tombados. Participei efetivamente deste discurso. Isto muito
significou para mim, não só como cidadã de Piracaia, mas como cidadã do mundo
que sou. Não se trata apenas de um casarão construído no início do século
passado. Não são meras paredes. São Paredes que contam histórias, participaram
da política, da economia e da cultura de uma época. Hoje eles nos falam, nos
contam, se impõem e exigem uma postura endossada em três ações que dialogam:
Recuperar, Preservar e Difundir. Parabéns Piracaia por sua conquista.
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