quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Uma feira de intenções...


Uma feira de intenções...[1]
Troca, permuta, câmbio, apropriação, consumo, uso... Quantas palavras vêm à mente mediando e nomeando as relações estabelecidas entre homens e homens, homens e objetos e até mesmo entre objetos e objetos? A quantos sistemas pertencemos? Henri Lefebvre defende em “O direito à cidade” que “[...] todo sistema tende a aprisionar a reflexão, a fechar horizontes. [...]” e sugere abrir o pensamento às possibilidades. Em outras palavras Bakhtin argumenta que o sistema vai à contramão do diálogo... Baudrillard refletindo sobre o sistema dos objetos diz que estes não mais correspondem e sim comunicam... Levando-nos a pensar o quanto somos objetos dos objetos. Um exemplo bobo (e como este, há tantos outros): quantas vezes você esqueceu uma torneira ligada porque estava “acostumado” com a outra que desligava sozinha? Este “acostumar” nos amalgama aos espaços quando nos esquecemos de quem somos (se o sabemos). Nossos corpos não são mais nossos e passam a ser objeto, objeto de trabalho, objeto público – onde publicamos nossos modos de pensar. “Midiamos” a nossa essência nos permeabilizando aos ambientes, ora camuflando-nos, ora escancarando-nos... Em outras vezes o corpo é o negócio: um sorriso bonito abre portas – principalmente a do dentista... 
A maneira como “portar” no mundo, para a grande maioria, tem muito mais a ver com o portar o mundo e suas derivações: com-portar; su-portar; a-portar. Mas, o ser-no-mundo, como define Heidegger, é o ser que se importa, ou seja, está em dívida, antes com o próprio, com o que lhe diz respeito (poderíamos elucubrar em noções de público/privado, mas agora não...) enquanto ser que existe – Dasein – presença, presença, neste sentido é cura/cuidado. O ser-no-mundo não “dá de ombros” quando percebe que há algo que não se “encaixa”. A sua consciência é o apelo da cura diante da estranheza à presença assumir o seu poder ser e estar. Estranheza, por exemplo, de estarmos enredado em sistemas taxonômicos que nos classificam por nosso poder de consumo, uso, costume e não pelo que realmente somos: Seres que não se conceitualizam, abertos em infinitas possibilidades, não nos esgotando em gêneros, classes, raças, castas, crenças... Muito menos por aquilo que consumimos, trocamos... Estamos-aí nas infinitas relações das feiras de intenções, mas não nos encerramos nelas, não somos prontos...


[1] Texto e fotografia de Sônia Barreto de Novaes a serem publicados na próxima edição da revista digital Kalango estará disponível em: http://revistakalango.wordpress.com/ - Editor responsável: Osni Dias.