A
narratividade será mais bem reconhecida se estiver ligada à fase representativa
do passado do discurso histórico. Entende-se, acordando com Paul Ricouer, esta
representatividade não como uma cópia, uma mimēsis passiva, mas como componente
simbólico na estruturação do vínculo social e das identidades que este põe em
jogo. Neste sentido a noção de singularidade
atribuída tanto a indivíduos como a acontecimentos; a noção de repetividade; de
seriação; coerção e de recepção despontam em apropriação e negociação na medida
em que a memória é re(a)presentada, em duplo sentido, ela - a memória - é trazida novamente ao presente por meio da narrativa.
As representações aproximam-se, assim, à noções aparentadas à
de poder - poder fazer, poder dizer, poder narrar, poder imputar-se a origem
das próprias ações, porque há o diálogo entre a história das representações e a
hermenêutica do agir, ora o agir se dá no macro, mas é no micro que ele se complexifica. A
macro-história está tão atenta ao peso das restrições estruturais exercidas
sobre a longa duração, quanto o está a micro-história à iniciativa e à
capacidade de negociação dos agentes em situações de incertezas.
É sempre em termos de durações múltiplas, e, eventualmente, em reação contra
rigidez de arquiteturas de durações bem empilhadas demais, que o historiador
modula o vivido temporal. Embora a memória experimente a profundidade variável
do tempo e ordene suas lembranças umas em relação às outras, esboçando dessa
maneira algo como hierarquia entre as lembranças, ainda assim ela não forma
espontaneamente a ideia de durações múltiplas.
(RICOEUR, 2007, p. 194)
Entre a macro-história e a micro-história um jogo de escalas se coloca. Estas variáveis escalares podem ser cartográficas, arquitetônicas, mas sobre tudo ópticas. São variáveis – medianas na manipulação da pluralidade de
durações, ou durações múltiplas - que o historiador considera em 3 fatores, a
saber:
- Natureza específica da mudança considerada;
- Escala na qual esta mudança está apreendida e;
- Ritmo apropriado à escala.
Entre a macro e micro-história situamos o caso Bata e percebemos as variáveis escalares acima citada. No Estatuto de sua empresa encontramos o seguinte capítulo:
CAPÍTULO
I – Nome – finalidades – localização e duração
Art
2º - A sociedade terá sua sede na cidade de Batatuba, no Estado de São Paulo,
Brasil, podendo estabelecer ramificações em outras cidades do Brasil e em
outros países do mundo, sob observações das respectivas leis; (ARCHANJO, 195?,
p. 91)
Então, numa fala de Jan Antonín Bata:
- “Para
um checo a economia é um plano elevado no programa individual. Para Bata é,
além disso, um ponto básico na existência humana.” (ARCHANJO, 195?, p. 64)
Tanto o Artigo do Estatuto das Empresas Bata, como a explanação do Sr. Bata, implicam escalas, perspectivas que podemos relacionar às variáveis acima. É algo que faremos :)
Nenhum comentário:
Postar um comentário