Uma feira de
intenções...
Troca, permuta, câmbio, apropriação, consumo, uso... Quantas
palavras vêm à mente mediando e nomeando as relações estabelecidas entre homens
e homens, homens e objetos e até mesmo entre objetos e objetos? A quantos
sistemas pertencemos? Henri Lefebvre defende em “O direito à cidade” que “[...]
todo sistema tende a aprisionar a
reflexão, a fechar horizontes. [...]” e sugere abrir o pensamento às possibilidades. Em outras palavras
Bakhtin argumenta que o sistema vai à contramão do diálogo... Baudrillard refletindo sobre o sistema dos objetos diz que estes não mais correspondem e
sim comunicam... Levando-nos a pensar o quanto somos objetos dos objetos. Um
exemplo bobo (e como este, há tantos outros): quantas vezes você esqueceu uma
torneira ligada porque estava “acostumado” com a outra que desligava sozinha?
Este “acostumar” nos amalgama aos espaços quando nos esquecemos de quem somos
(se o sabemos). Nossos corpos não são mais nossos e passam a ser objeto, objeto
de trabalho, objeto público – onde publicamos nossos modos de pensar. “Midiamos”
a nossa essência nos permeabilizando aos ambientes, ora camuflando-nos, ora
escancarando-nos... Em outras vezes o corpo é o negócio: um sorriso bonito abre
portas – principalmente a do dentista...
A maneira como “portar” no
mundo, para a grande maioria, tem muito mais a ver com o portar o mundo e suas derivações: com-portar; su-portar; a-portar. Mas,
o ser-no-mundo, como define
Heidegger, é o ser que se importa, ou seja, está em dívida,
antes com o próprio, com o que lhe
diz respeito (poderíamos elucubrar em noções de público/privado, mas agora
não...) enquanto ser que existe – Dasein
– presença, presença, neste sentido é cura/cuidado.
O ser-no-mundo não “dá de ombros” quando percebe que há algo que não se
“encaixa”. A sua consciência é o apelo da cura diante da estranheza à presença
assumir o seu poder ser e estar. Estranheza, por exemplo, de estarmos enredado
em sistemas taxonômicos que nos classificam por nosso poder de consumo, uso,
costume e não pelo que realmente somos: Seres que não se conceitualizam,
abertos em infinitas possibilidades, não nos esgotando em gêneros, classes,
raças, castas, crenças... Muito menos por aquilo que consumimos, trocamos... Estamos-aí nas infinitas relações das
feiras de intenções, mas não nos encerramos nelas, não somos prontos...