quarta-feira, 3 de outubro de 2012

da aldeia à cidade - Pião - Atibainha Acima I

As tantas curvas que permitem o chegar e o voltar deste lugar se perfaz  também em suas histórias compreendendo encantos e desencantos - o Pião é um bairro rural - distante do centro da cidade de Piracaia, marcado por uma vida comunitária. Terei que voltar lá pra pegar histórias, porque fui acompanhada de uma amiga e acabamos indo para um churrasco. Mas ali também pude ouvir uma história do Seo Zé Carlos sobre ter brigado com uma onça no rio que passa por ali... Rio Atibainha que nasce no Bairro Atibaianha Acima onde temos outras histórias, como a do Antônio Migué que cantava, tocava e era analfabeto e por fim morreu incendiado, não se sabe por quem... Seo João Barroca sobrevivente de um acidente... o trator virou com ele morro abaixo quando ele fazia os cortes dos eucaliptos, alias a natureza perdeu muito da sua riqueza por conta desta monocultura. E até onde sei não há rotatividade de cultura para estes chãos... Interessante foi observar a Dona Izilda contando a história do Seo Januário quando viu o vídeo deste. Deixou de falar de si pra falar dele... Seo Januário mora sozinho há pelo menos 8 anos, tem carro, mas não dirige, paga um motorista quando tem que sair do sítio, onde cria porcos e galinhas. Trocou na feira da cidade duas galinhas por um celular. Possue dois aparelhos um para usar no sítio e outro que só funciona na cidade. A estante de sua sala comporta além dos celulares, remédios, botinas ao lado de um vaso de flores rosas de plástico, santos (vários santos) "Tudo eles protegi eu, né?" Diz seo Januário quando questionado sobre qual prefere. "Minha mãe dava certinho com ele." Diz Izilda quando falou que seo Januário está a procura de uma esposa, "Mas ela não quer saber..."

"A vida de aldeia acha-se engastada na associação primária entre nascimento e lugar, sangue e solo. Cada um de seus membros é um ser inteiramente humano a desempenhar todas as funções apropriadas a cada fase da vida, do nascimento à morte, em aliança com forças naturais que venera e às quais se submete, muito embora possa ser tentado a invocar poderes mágicos para as controlar no interesse de seu grupo. Antes que começasse a existira a cidade, a aldeia já criara o vizinho: aquele que mora perto, dentro de uma distância onde é fácil chamá-lo, compartilhando as crises da vida, velando os que agonizam, chorando solidariamente pelos mortos, rejubilando-se num banquete nupcial ou num nascimento..." (MUMFORD in A Cidade na História, p. 21)


"Quando se dissolvem laços primários, quando a comunidade íntima visível deixa de ser um grupo vigilante, identificável, profundamente interessado, o "Nós" passa a ser um ruidoso enxame de "Eus" e os laços e fidelidades secundárias se tornam por demais frouxos para deter a desintegração de comunidade urbana. Somente agora, quando os modos da aldeia vão rapidamente desaparecendo do mundo, podemos avaliar tudo que a cidade lhes deve, pela energia vital e amorosa proteção que tornaram possível o maior desenvolvimento do homem." (MUMFORD in A Cidade na História, p. 22)